sábado, 8 de setembro de 2018

Etanol tem o melhor preço comparativo em 15 anos

Combustível tem melhor vantagem comparativa desde o surgimento do primeiro carro flex, em 2003

“Gasolina ou etanol?, pergunta o frentista do posto. A dúvida, comum na cabeça de todo motorista, não tem sido tão frequente aos juiz-foranos que precisam abastecer seus veículos. Segundo levantamento feito com base nos dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nunca compensou tanto abastecer com álcool em Juiz de Fora. Na última semana, o preço pago pelo litro do derivado da cana-de-açúcar correspondeu a 54% do valor do litro da gasolina. Essa é o melhor vantagem comparativa desde o início da pesquisa, em 2003.

Para donos de carros bicombustíveis, é possível determinar financeiramente qual combustível é vantajoso com base numa relação média entre o preço da gasolina e etanol, que deve girar em torno de 70%. Na prática, é preciso dividir o preço do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado da divisão for acima de 0,7, o consumidor deve optar pela gasolina. Se ficar abaixo, a alternativa é o combustível renovável.

Tradicionalmente, nos meses de safra, entre maio e novembro, o álcool tende a ganhar uma ligeira vantagem em relação à gasolina e a compensar nos estados produtores. No entanto, desde 2015, essa paridade pró-etanol não era tão vantajosa. Em Minas Gerais, naquele ano, o percentual esteve baixo (60%) em virtude da redução a alíquota do ICMS do etanol hidratado para 16%, que deu incentivo e competitividade ao setor. Desta vez, o recorde na safra da cana-de-açúcar e a alta nos preços da gasolina, provocada pela mudança de política de preços adotada pela Petrobras, beneficiaram o combustível renovável.

Nos postos, segundo frentistas relataram à reportagem, para cada dez motoristas, sete abastecem com álcool. O preço tem sido o principal fator de mudança na preferência do consumidor. “Desde que a gasolina foi aumentando de preço e o etanol diminuindo, está compensando demais. A gente sempre procura o melhor preço. Eu prefiro a gasolina, mas está muito caro. Todo mundo é sensível ao preço”, afirma o motorista Gilvan dos Santos, 31 anos.

A preferência é compartilhada por outros motoristas, que também levam em consideração o desempenho do veículo com cada combustível no momento de escolha. “Faz quase um ano que estou abastecendo com etanol, pois no meu carro quase não faz diferença no consumo: dez quilômetros por litro com etanol e 12 com gasolina. Enquanto eu encho o tanque com R$ 100 no etanol, eu gasto gasto R$ 200 com gasolina”, exemplifica o professor Pablo Henrique Silva Barbosa, 27.

Apesar do cenário favorável ao combustível derivado da cana-de-açucar, ainda existem motoristas que preferem abastecer com gasolina. É o caso de Paulo César Rodrigues, 56. Por muito tempo, ele abasteceu com etanol, mas por orientação do mecânico passou a abastecer com gasolina aditivada, mesmo com o preço em alta. “Estou seguindo a orientação do mecânico de colocar gasolina. A questão do preço não fez diferença pra mim, já que no meu carro faz muita diferença quando coloco etanol e gasolina, mesmo ele sendo flex”, afirma.

Preços dos combustíveis devem se manter estáveis até novembro

De acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o volume total de etanol comercializado pelas unidades produtoras do Centro-Sul somou 1,34 bilhão de litros nos primeiros quinze dias de agosto, um crescimento de 20,32% em relação à mesma quinzena do ano anterior, quando foram produzidos 1,12 bilhão de litros. Com isso, se há pouco mais de um mês, o litro do álcool era encontrado na bomba por R$ 3, hoje é possível encontrar o combustível a R$ 2,28 em alguns postos do município, segundo levantamento da ANP.

Por outro lado, na última quarta-feira (29), o preço da gasolina vendido às distribuidoras sem tributos chegou ao maior valor desde o início da nova política de preços da Petrobras: R$ 2,107. Em agosto, o valor da gasolina já acumula alta de 7,09%, o que deve se refletir na alta do custo do derivado de petróleo.

Na avaliação do presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas do Estado de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, o desempenho do setor é resultado da destinação de 60% de toda a produção recorde para a fabricação de álcool. E a expectativa é de que o setor produza, até novembro deste ano, mais de 2,1 bilhões de litros de etanol hidratado, 30% a mais que o ano passado.

O aumento da oferta tem gerado sinais positivos na demanda. Segundo o presidente da Siamig, a produção do primeiro semestre do ano apresentou crescimento de 96% em relação ao mesmo período de 2017. O alta poderia ter sido maior, não fosse a greve dos caminhoneiros que fez perder dias de consumo. “Esses dez dias de greve a gente não recupera. Isso impactou as vendas num momento em que o mercado de etanol estava ganhando competitividade”, afirma.

A associação espera que o consumo de álcool em agosto bata o recorde de vendas em toda a história. A previsão é de que cerca de 200 milhões de litros de etanol hidratado sejam comprados pelos proprietários em Minas Gerais. O número surpreende diante da pequena participação da fonte energética nas preferências do consumidor, com apenas 30% do mercado. No geral, o setor espera um crescimento de 16% em todo o estado, se comparado com o ano anterior.

A tendência é de que os preços se estabilizem no patamar atual, com aumentos e reduções até o fim da safra, em novembro. A expectativa é de que o consumidor fique mais habituado com o combustível e, assim, faça com que a demanda média permaneça mais elevada. “Temos um potencial enorme de crescer, um potencial de consumidores a conquistar. O preço é a porta de entrada de novos consumidores de etanol hidratado”, afirma Mário Campo, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas do Estado de Minas Gerais (Siamig).

Postos tentam suprir demanda do consumidor

Com a vantagem comparativa do etanol, muitos postos da cidade estão comprando o dobro do volume do produto que estava sendo adquirido em maio, antes da greve dos caminhoneiros. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), as vendas das usinas na região Centro Sul, na primeira quinzena de agosto, atingiram 919,8 milhões de litros de álcool, um aumento de 41,85% em relação ao valor registrado em igual período de 2017 (648,43 milhões de litros).

Apesar de não existir levantamento do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro) sobre o volume de compra dos associados, gerentes e proprietários ouvidos pela Tribuna afirmam que chegam a receber novos carregamentos quase que diariamente com . “Temos comprado uma média de 15 mil litros por semana do produto, antigamente a gente comprava por volta de oito mil. A procura está muito alta”, exemplifica o gerente do Posto Cascatinha, Cleber Lopes.

Além da maior oferta, proprietários tentam suprir a busca do consumidor pelo menor preço, que tem variado pela cidade. Segundo Luiz Balbi, gerente do Posto Romualdo, a concorrência com relação ao preço do tem feito com que os postos reduzam a margem de lucro a fim de alcançar novos consumidores. “O lucro ficou bem achatado diante da concorrência. Estamos trabalhando com uma margem menor, mas esse ano está tendo uma safra boa”, afirma.

FONTE: Tribuna de Minas 02/09/2018